Turcomenistão: dicas gerais de um dos países mais fechados do mundo
- 20 de junho de 2016
Se me perguntam qual a experiência mais exótica que eu já tive, na lata a minha resposta é: conhecer o Turcomenistão.
O país fica lozalizado na Ásia Central e faz fronteira com o Irã, Afeganistão, Cazaquistão e Uzbequistão.
O Turcomenistão é um país pouquíssimo conhecido por nós brasileiros e sem dúvidas é surpreendente. Deserto, simplicidade, modernidade, irreverência, sítios arqueológicos recheados de história, cratera que queima no meio do deserto (com direito a acampar e tudo), sistema político diferenciado e toneladas de mármore e ouro pela capital do país (Ashgabat parece uma mistura de Vegas - com muitas luzes coloridas, com mega construções estilo Dubai), são algumas das coisas que podemos ver por lá. Mas vamos por partes...
Primeiro de tudo, você já ouviu falar desse país? Se já, te convido a esquecer um pouquinho e ler o que vou escrever aqui. Confesso que quando visitei o país fiquei surpreendida e vi que praticamente o que sabia sobre lá não era 100% verdadeiro. Tive o prazer de ter um guia local com um conhecimento histórico e político e gravei tudo, já que livros sobre o país também são escassos. Agora conto para vocês nesta apresentação inicial sobre o Turcomenistão.
Foto: Cratera de Darvaza
O Turcomenistão, assim como seus vizinhos de Ásia Central Uzbequistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Cazaquistão, é uma ex-república soviética. Ou seja, estes países fazem parte dos 15 Estados independentes que emergiram após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1991.
Hoje, o Turcomenistão vive um momento interessante e bastante diferente dos vizinhos. Economicamente é o mais rico, porém possui uma fama “a La” Coreia do Norte quando o aspecto político é colocado em pauta. Vamos entender melhor este contexto e principalmente entender o porquê foi tão fantástico conhecer esse lugar. Mesmo com dificuldades em montar a viagem, super valeu a pena.
Foto: Encontro com dromedários pelas estradas turcomenas.
Fatos curiosos sobre o Turcomenistão:
⇒ A cidade de Ashgabat possui fotos do presidente Berdimuhammedow em todos os locais possíveis e imagináveis. No hotel: tem. No hospital: tem. Na livraria: tem. No bar: tem. Dá a sensação que existe uma lei para a "onipresença" do mesmo (isso eu já não sei confirmar, mas também não duvido que haja). Antes deste presidente assumir, que já governa desde 2007, o antigo presidente, Niyazov, também adotava a regra de sua imagem espalhada por todo lado, mas não eram fotos e sim estátuas de outro. Hoje restam poucas destas estátuas por aí.
⇒ O Niyazov assumiu assim que houve a queda da União Soviética. Ele, além de espalhar suas imagens por aí, escreveu um livro religioso e tornou obrigatória tal leitura, pois era necessário domínio do seu livro para passar em determinadas provas e etc. A maior mesquita da Ásia Central, que fica no país, possui vários trechos deste livro, talvez este seja o motivo de ela, apesar de muito suntuosa e extremamente grande, viver vazia.
⇒ Sua capital, Ashgabat, é cheia de construções suntuosas, com direito até a pontos de ônibus com ar condicionado, faixas de trânsitos luminosa, MUITOS soldados a cada metro quadrado (sem exagero de minha parte) e mais vários outros exageros, porém a cidade é super deserta (breve vem post falando tudo sobre a cidade que é super curiosa);
Foto: Ashgabat
⇒ É proibido fotografar muitos prédios públicos, tanto por fora quanto por dentro. A todo o momento tinham vários guardas nos observando e na medida que íamos caminhando, percebíamos que todos estavam em contato por meio de escutas, controlando nossos passos, literalmente.
⇒ Praticamento não existem crimes lá. Se acontecer um homicídio (que é muito raro), o caso é televisionado e ganha grande ibope. A sensação que dá é que as pessoas possuem muito medo do governo.
⇒ Existe um projeto do antigo presidente de 30 bilhões de dólares para construir um rio no meio do deserto de Karakum (deserto que corta o país inteiro).
⇒ O Deserto de Karakum corta o país e representa 70% de sua área. A população por lá é esparsa, uma média de uma pessoa a cada 6,5 Km.
⇒ A capital do país tem milhares de fontes espalhadas pela cidade. O principal motivo, além da estética, é ajudar a baixar as elevadas temperaturas. Todas as fontes são, como tudo na cidade, de mármore branco e a água que corre por elas é mineral para não alterar a cor da pedra. Dá para vocês uma coisa dessas?
“O Turismo não é interessante para o nosso país” , frase enfática que nosso guia local nos disse. Tendo em vista isso, digo também que é preciso entender que é um país com uma estrutura totalmente diferente da nossa, em todos os aspectos.
O turismo representa menos de 1% da renda do país e não é interessante para eles por alguns motivos (para o vizinho, Uzbequistão, o turismo representa 20%). O primeiro é porque 73% da renda vem da indústria de gás, óleo e eletricidade, e isso já representa muito. O segundo motivo, segundo não apenas as deixas que meu guia local deu, mas segundo também minhas próprias impressões é de que eles não fazem a mínima questão da “turistada” dando pinta por lá. “ O que é visto aqui pode ser muito mal interpretado pelas pessoas que não entendem”.
Foto: Sítio arqueológico Gonur-Depe
Vamos entender melhor isto, o lado ruim e também tem muita coisa boa sobre o país...
Os jornalistas são quase proibidos de entrar lá, para conseguir o visto como jornalista é bem complicado, as informações sobre o Turcomenistão no Google são meio distorcidas ou escassas porque é muito difícil ter acesso a tais informações. O governo dificulta. Eles realmente não querem o mundo sabendo sobre seu país. O presidente tem medo que jornalistas escrevam coisas distorcidas do que é visto lá. Um jornalista russo uma vez fez uma matéria criticando o presidente que tomou enorme repercussão negativa para imagem do mesmo. O tema era “All population in the prison”, fazendo alusão ao sistema político de ditadura, onde o presidente afirma não ser, uma vez que é eleito por democracia.
O que o presidente enfatiza é: “temos nosso sistema político e funciona bem, olhe para as outras repúblicas soviéticas, somos a que está melhor economicamente e não precisamos de aprovação de ninguém.”
Foto: Sítio arqueológico
O país não é democrático. Segundo nosso guia local... não é bem assim.
Não vou entrar muito neste mérito mas tem mais algumas informações peculiares.
A população consegue ter uma boa renda dentro do país, porém não abre muito espaço para fora do país. Deixa eu explicar... Por exemplo, o salário médio chega a U$300 e é mais do que suficiente para uma vida digna lá dentro. O governo dá saúde, educação, gás, algumas famílias conseguem apartamentos e, segundo meu guia, nem com muito esforço os mil dólares (no caso dele é o quanto ganha) são gastos pois quase tudo é ofertado pelo governo. Isso dá certo para o poder interno mas pouquíssimo poder externo, mantendo ainda mais o país fechado. É um poder muito baixo para o exterior, para viajar,ter acesso a várias coisas, etc.
Foto: Dromedários na estrada
Para o nosso guia, o país é tudo perfeito. Perguntamos: tem algo que a população reclame, Parece tudo perfeito.. A resposta? “really is the paradise”. Será?
Outro ponto para a escassez de turismo é que uma viagem independente lá é impossível. Todo turista precisa ter um guia local acompanhando e consciente do roteiro e pontos a serem visitados. Os guias são ligados ao governo (talvez por isso meu guia acreditasse ser o paraíso).
Para conseguir o visto nem sempre é fácil. O nosso foi negado duas vezes num período de um ano até conseguirmos além de ser negado no ano anterior). Na realidade o visto mesmo é obtido na chegada ao país, porém é preciso uma carta convite solicitada anteriormente de uma companhia registrada no Turcomenistão com pré aprovação do Ministério das Relações Exteriores. Deverá ser pago uma taxa de aproximadamente USD 61,00. Além de um guia local acompanhando a viagem de cada turista ou grupo integralmente. Uma viagem independente é impossível nesta região. Este guia que acompanha delimita o que e onde iremos ver. Além de que é proibido tirar foto em muitos prédios públicos bem como para em muitos deles.
Foto: Deserto de Karakum
Confesso que não sei de muitas opções. Na entrada e na saída fomos por terra saindo do Uzbequistão em van com nosso grupinho. Sei que de bus também é possível via Irã. Só utilizamos os aeroportos do país para fazer um ou dois voos internos.
A chegada no Turcomenistão é uma coisa de louco. Demoramos 5 (cinco!!!!) horas na alfândega para conseguir a liberação do visto, mas detalhe: estava totalmente vazia! Só tínhamos nós, que claro, já estávamos com a carta em mãos.
Nunca vi na vida como uma espécie de caixa de areia no caminho para dificultar a entrada na alfândega, era um tal de levanta e abaixa mala que ninguém mais aguentava.
Várias placas alertando a proibição de vários medicamentos, alguns além dos que vimos na internet. Entrar com alguns remédios para dor, como Tramal por exemplo, podem dar prisão
As malas de todos foram abertas e reviradas, menos a minha que fui a primeira a passar pela segurança quando fomos liberados. Não sei se pela simpatia (modéstia parte rsrs) ou se por ser uma turista jovem e brasileira, coisa MUITO irreverente para eles.
Mas preciso confessar uma coisa: ao passar pelo raio x, fui MUITO bem tratada. Futebol, Neymar, e policiais locais entusiasmados em poder treinar seu o inglês. Ufa! Isso me ajudou a desarmar um pouco, pois já estava um pouco tensa e amedrontada com todo o tratamento e ansiedade da espera.
Foto: Cidade no meio do deserto chamada Erbent
Posso dizer quando não ir. Evite o mês de outubro (eu fui no mês de outubro rsrsrs). Digo isso porque conseguir visto em outubro é quase impossível, pois eles comemoram a independência do país com um big desfile e comemorações por vários dias e é permitido apenas turcomenos dentro do país. Aí vocês podem questionar: ué, e como você conseguiu estar lá? Os dias que estivemos lá não chocaram com o do evento, apenas com um ensaio do desfile que claro, não nos foi permitido assistir. Talvez esse tenha sido um dos motivos de o visto ter sido negado.
Apesar de o país abrigar a maior mesquita da Ásia Central (que vive vazia vazia), a população não é tão religiosa assim. Os dados dizem que a maioria é muçulmana, mas não é tão praticado. Acredito que pela herança soviética onde a prática religiosa era proibida.
(a mesquita que falo é a foto principal deste post)
A roupa típica do país para mulheres é um vestido longo de cor única (que pode variar) com uma aplicação de bordado na frente, além de uma espécie de um turbante colorido na cabeça. Elas são chiques e elegantes. Não se vê minissaias ou shorts por lá, logo acho que turistas vestidos assim seria desconfortável para todos. Não por questão religiosa, mas sim por uma questão de adaptação. Quando passávamos nas ruas recebíamos diversos olhares. Do mesmo jeito que eles são raros para nós, nós somos para eles. Mulheres calçando botinas, calças e roupas nada elegantes chamam atenção, imagina só mini comprimentos? Acho melhor evitar, até porque muitos dos passeios envolvem roupas para desbravar por ser no meio do deserto.
Minha sugestão é cobrir pernas e ombros.
O idioma oficial é o Turcomeno. Poucas pessoas falam inglês por lá.
A moeda local é o Manat e poucos locais aceitam dólares americanos. É só fazer o câmbio no aeroporto ou perguntar ao seu guia local.
Segundo meu amigo e companheiro de viagens André Salgado, eu amo um “bugenir”. Mas, para desânimo total, lá é escasso encontrar souvenirs, roupas típicas (amo!!!) e qualquer lembrança. Definitivamente não é o local para fazer nenhuma espécie de compras. As roupas típicas são caríssimas, assim como tudo por lá. Me contentei com uma bolsa artesanal, umas pulseiras e um ímã de geladeira para a coleção. E só!
Foto: Monumento e prédio na cidade de Ashgabat
Ashgabat (capital), a Cratera de Darvaza (atração principal em minha opinião), sítios arqueológicos recheados de história dos primórdios da civilização, entre outros. Mas anota aí o nome de algumas cidades: Merv, Erbent, Gonur Depe. Vai vir um post detalhando cada lugar e atração. Aguarde que breve entra no ar.
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Fotos: Acervo pessoal
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